10 abril 2004

o quê?não se perguntem

sinto-me um bicho de talho.desfaleço num monte de cadáveres que dissecam ao longo dos dias.não sou eu quem vive.uma pele enrugada e escurecida pela dureza da vida diz que a morte está próxima e um anjo risse na sua cara.num mundo extinto,o sofrimento corrompe almas.e um sádico luta pelo que chama igualdade de direitos.uma avó mente descaradamente sobre a infertilidade das plantas e diz que nada passa de uma mesquinhice.uma voz estridente lacrimeja numa calçada deserta,pede ajuda a um pedinte desolado.o tempo consome-se em noites aflitas.e nada é verdade além do quente sangue que jorra duma ferida.talvez tivessem nascido para serem dois cavaleiros alados, lutando por ideais que submergem na vossa mente.são seres passivos dotados de uma estranha condição que não os prende à terra nem às suas humilhações.nos sorrisos humildes de quem sofre e perdoa encontra-se sempre um pouco de paz.procura algo que nunca teve e sonha com o que nunca terá.sente-se perdido num amor louco carregado de mágoas e rancores.e não pára de remar procurando um caminho incerto impossível de alcançar.outro ser mais sombrio vive na esperança de ver um dia.seu instrumento manuseia esperando que lhe traga fortunas.sorri pelo mero prazer de sorrir.nada espera em troca e com sinceridade tudo dá sempre que tira.vive um dia após outro,esperando saber quem é e onde pertence.está um passo adiante destas sombras envoltas em mistério.faz chacota do mal alheio e risse com o que não deveria.está a aprender a sentir-se gente.num olhar de soslaio mira quem não deve.sente-se superior numa inferioridade imensurável.perdeu-se num caminho em que não sabe que está.e entende que está correcto na sua cegueira sem querer conhecer a verdade.já não vivemos todos num talho nem temos que nos trinchar mutuamente.

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