17 julho 2006

Doze moradas de silêncio

"hoje é dia de coisas simples
(Ai de mim! Que desgraça!
O creme de terra não voltará a aparecer!)
coisas simples como ir contigo ao restaurante
ler o horóscopo e os pequenos escândalos
folhear revistas pornográficas e
demorarmo-nos dentro da banheira
na ladeia pouco há a fazer
falaremos do tempo com os olhos presos dentro das
chávenas
inventaremos palavras cruzadas na areia... jogos
e murmúrios de dedos por baixo da mesa
beberemos café
sorriremos à pessoas e às coisas
caminharemos lado a lado os ombros tocando-se
(se estivesses aqui!)
em silêncio olharíamos a foz do rio
é o brincar agitado do sol nas mãos das crianças
descalças
hoje"

Al Berto

hoje é o dia em que dois corpos se poderiam juntar..hoje é mais um dia em que as rotinas se sobrepõem..
hoje não passa de uma palavra que amanha já não o é mas poderá ser..
hoje penso, preocupada, e suspiro por que se é hoje..
amanhã será um hoje quando o hoje já não existir..
e depois de hoje, muitos outros dias..
dias em que o coração aperta..
dias em que a mente se retrai..
dias em que o ser explode, numa rendição alegre às evidências..
dias que se tornam noites, em que descanso ao teu lado..
hoje não..
hoje sim..
hoje é só mais uma palavra para nos lembrar de viver..