25 novembro 2005

um íman especial

ofereces-me imagens de mente
dás-me outros caminhos para percorrer.
à flor da pele, sinto frustração
sei por onde ir, sem um como.

abres-me percepções,
descobres em mim sensações
mostras-me sorrisos tontos.
um mundo pra mim desconhecido,
por ti se me revela.
mostra-me mais, dá-me mais
sem deveres nem suplícios.
até o espaço de ser livre
rebentar porosamente de alegria.
uma dança
por ti me foi entregue de bandeja.
um plano para nós criado
perfeitamente concebível
e com muito espaço
para ser quebrado.
um mundo sem grandes regras.
uma vida sem grandes definições ,
muita coisa pra contar e descobrir.
distante, sinto que me cercas
de forma espontanea, nada
forçado, nada obrigado.
um pássaro ao descobrir
que tem asas
e que pode pousar em árvores.
mostras-me e dás tanto.
infelizmente, o meu corpo
petrifica-se em receio.

22 novembro 2005

está uma noite chuvosa
o silêncio abrasador da noite, esquenta-me
a música eriça-me os pêlos, a lua e o sol sorriem
algo bonito que nunca a ninguém pertencerá
continua perdido. porque todas as coisas maiores
desta condição se forçam. línguas estrangeiras,
corpos distantes, mentes ausentes,
uma neblina que percorre necrofegamente a obscuridade.
o retalhista procura sensações na sua senilidade,
o dia a dia preenche-se e por vezes esquece-se.
ondulatório, o translúcido prazer aguado vai descendo.
rios salgados de lava pedrados e azul violeta,
riem do alto, que nem saltimbancos.
as páginas olvidadas em evasão
e os sentimentos de amanhã pelos de ontem.
numa consistência de irregularidades,
a noite volta a acalmar.
acima, o contubérnio da minha cama,
espalha uma luz intensa indefinível.
desinquietante, a voz percorre-me
numa explosão imperial de rendição.
sim, chama-me mais uma vez.

19 novembro 2005

In spite of me

"Last night I told a stranger all about you
They smiled patiently with disbelief
I always knew you would succeed no matter what you tried
And I know you did it all in spite of me
Still I'm proud to have know you for the short time that I did
Glad to have been a step up on your way
Proud to be part of your illustrious career
And I know you did it all in spite of meIn spite of me
Late last night I saw you in my living room
You seemed so close but yet so cold
For a long time I thought that you'd be coming back to me
Those kind of thoughts can be so cruel
So cruel
And I know you did it all in spite of me
In spite of me."

by Morphine

i lost you when i less wanted it..
you showed me love..
but in spite of me,
you kept going.
thoughts and words..
how cruel things can be..

sometimes we need to detatch from people
sometimes we feel the urge to be someone new
tonight i had dinner with elderly people
tonight i dreamt about what will be..
i saw all the pain and joy of three generations
standing together at a table, sharing some routines.
sometimes we feel a desire to become free
from influences, burdens, strangers.
and life is going by, with us changing,
people around changing
and the circunstances floating
through days of different smiles
and looks.
the need of going somewhere else
calls us. we sit, quiet..waiting..

17 novembro 2005

Feitos para estar ou não, somos todos.
Existimos num dia a dia de inconstâncias
Abraçamo-nos no peso da solidão,
Trespassamos olhares na sensação de domínio
De insensatez revestimos as noites
E de memórias, enchemos o presente,
Sempre encontrado como ponte e nunca pelo que é.
Nos passos correntes da loucura, entre as presas
Da lucidez, vamos andando.
Cheios de convenções e convicções.
Um eu, descontente
Tenta mudar o futuro sem pensar no presente.
Ouçam-se a voz das vielas e das pequenas coisas,
Dos gemidos silenciados e do riso emudecido
Está tudo aqui, ao alcance. e pela nossa condição,
Sempre distante de um gesto.
Gastando mais um sopro no tempo,
Desafiando sombras e pareceres, conformando.
A comida servida resfriada, a fome sussurrada à distância,
O tempo não é o hoje nem nunca o será.
A mente não desperta, não dá um pulo final
E tudo, enfim, é rotina.

denial

I was denyed love when I was born.
The sweetness of my heart melted away.
Swinging I walked, dancing I talked.
Far far away from the things of the heart
Soul, alone, going through.
Running away thousand miles
Trying to get somewhat high.
No love, just jealousy and frustration
All in a box, never fitting together.
Me, with the tenderness of loneliness
Sweet blues and the coloured blanket.
When I was born, I was denyed love.
Still, I feel it in all its splendour.
And someone refuses to give.
Love was denyed to me after birth,
And this sweet truth will keep on following
Shadows and minds, through all their sorrows.
Being or not the only one,
This is the truth of my being
When born, someone denyed me what they call love.

14 novembro 2005

De Balie - The intellectuals' house

Running in their wilderness
Thinking of human troubles
Smoking an unexisting pipe
And drowning all their sorrows.
These men are the new future,
Which waits desperately for something
I sit and watch them,
Waiting for a change in the ways of becoming.
Standing at the bar, one or two
Of these shadows talk melodically,
Like a song of despair and hope.
The clock continues tickling and
These strangers still discuss.
What about? Pain, injustice and liberty
Freedom of achieving something more.
In the newspapers, a scarcity of happiness
Gives them motivation to go on.
After a no, a maybe should come
But so far, in the horizon, nothing else
Shines so fiercely.
The strangers continue, over and over
Throughout their life debts. Some come,
Others go, but the hope is still there.
Rumbling and scrambling,
All their minds join together. Like an orgasmic
Feeling of fear, anger, rage and stillness.
Against what? Once again, the words
Are dismissed from their function.
Social interactions get blurred in
An ever growing sickness of being.
Staying there, trespassing gates,
Feeling the loneliness of an empty round table.
A bottleneck effect of being born in a single place,
Living as a single simple mind, wishing
For eternity in desires and waiting for
The end of the days.
They read, they talk,
They display a rude conflict of ideas.
I’m still here, alone, listening
All the whispers the blowing wind brings
And waiting, waiting,
Waiting for the joy of life to come.
In the intellectuals’ private room, there’s silence.
The edge of day arises, through a dark sad sky.
One more station on the way,
And then a sad and still lonely departure.

trapos velhos revisitados

Com movimentos grisalhos, o velho aproximou-se dum antigo banco de jardim.
quantas almas ali se sentaram, em silêncio. outras, declarando amores passageiros de joelhos erectos num canteiro de solo feito por pés singelos, em redor de um verde maciço e rasteiro.
o velho pensava longamente sobre todas as conversas decorridas naquele espaço, sobre os monólogos que uma mente louca dispersara ao vento, esperando que as sementes da sua doença encontrassem terreno fértil num lugar sem nome.
enquanto recolhia relíquias para a sua colecção, examinando longamente cada recanto daquela pequena maravilha, pensava se a dona daquele objecto teria chorado enquanto alguém, que outrora lhe prometera ilhas de paixão eterna, agora lhe dizia que tudo não passara de um engano, sem que a culpa fosse dela.
teria alguém, num desejo de volúpia, entregado seu corpo a um estranho orgasmo naquelas velhas tábuas refundidas por breves arbustos? gemeria essa pessoa?
teria alguém tido a bondade de pintar para a eternidade das almas,a velhota que todos os dias passeia ao fim da tarde, desamparada na sua muleta saudosa de um tempo já há muito ido.
talvez uma jovem tenha sido assaltada, ameaçada enquanto tremia e pedia que a deixassem. teria alguém ajudado a rapariga ou teria ela ali ficado, pensando, com uma taquicardia presa numas rótulas demasiado cansadas para fugir.
perguntava-se o velho sobre quem teria pintado tanto aquele pequeno objecto. talvez uma prostituta, de mini-saia brilhante, grandes e delgadas botas brancas, de unhas compridas, sujas de um vermelho-sangue.os seus cabelos oleosamente compridos, pintados num tom amarelo de quem pede algo. ah, teria ela ali esperado promiscuamente por um cliente?
talvez outra mulher entre muitas se tivesse confessado neste lugar a um padre ou mesmo, quem sabe, a um deus desconhecido e reencontrado num canto obscuro dum imenso jardim.
o vento soprava entre as copas das árvores, contando segredos aos mais atentos. o frio da tarde já se fazia sentir entre as linhas rasgadas de uma camisa gasta pelo tempo. desejava ir para casa. a sua esposa, vivente apenas numa moldura emergindo entre uma estante e um frigorífico, esperava-o.
antes de poder jantar com ela, teria ainda que guardar as suas preciosidades. dividi-las por tons de tristeza, angústia, pressa, alegria, paixão, sofrimento. queria ainda mirar as suas conquistas e imaginar todas as donas de beatas com batôn ainda por encontrar.

12 novembro 2005

creation

from the desert forest, i saw you running wild.. a refreshing feeling floating around.. a circle merging together and a flaming book coming from within.. taught me what to expect..

07 novembro 2005

há dias assim...

All around, just needing some time
Been sick of seeing and being,
Need a new beginning...
Just now, maybe not later
Waiting in vain, you making love to someone
Without an end or goodbye
Me, not being. . need a new beginning
Treacherous, my precious.. wish you.
And just continuing.
Need a new beginning...

Canso-me de olhar para um ecrã vazio que nem uma colmeia morta. sei que nada posso querer neste momento. sorrio perante a minha inundação. um louco nada mais é do que alguém que emerge dum inconsciente em que nos obrigam a viver. não sei se verão eles mais longe.

04 novembro 2005

"excuse me in this pleading
let me be your working man
i'll do anything i can.."

Road to Nowhere

WELL WE KNOW WHERE WE'RE GOIN'
BUT WE DON'T KNOW WHERE WE'VE BEEN
AND WE KNOW WHAT WE'RE KNOWIN'
BUT WE CAN'T SAY WHAT WE'VE SEEN
AND WE'RE NOT LITTLE CHILDREN
AND WE KNOW WHAT WE WANT
AND THE FUTURE IS CERTAIN
GIVE US TIME TO WORK IT OUT

We're on a road to nowhere
Come on inside
Takin' that ride to nowhere
We'll take that ride
I'm feelin' okay this mornin'
And you know,
We're on the road to paradise
Here we go, here we go

CHORUS
Maybe you wonder where you are
I don't care
Here is where time is on our side
Take you there...take you there

We're on a road to nowhere
We're on a road to nowhere
We're on a road to nowhere

There's a city in my mind
Come along and take that ride
and it's all right, baby, it's all right

And it's very far away
But it's growing day by day
And it's all right, baby, it's all right

They can tell you what to do
But they'll make a fool of you
And it's all right, baby, it's all right

We're on a road to nowhere

by David Byrne (Talking Heads)

what is your road? suggestions and ideas accepted..
i'm going to nowhere now, running fast and intensely..