03 agosto 2006

esperava sentada numa esquina..o vento roçava lentamente os meus cabelos de encontro à face..
do outro lado da estrada passeava um míudo de meio palmo, tricando ao de leve um magro gelado..
perto do largo, um cão e seu dono discutiam longos silêncios, aguardando para perder medos..
singelas donzelas, cirandavam-se por caminhos que seus ancestrais teriam também percorrido..
sorrisos e cumprimentos banais ondeavam por entre os demais..
do longe da rua, uma funesta música de lutos gritava no seu gemer prostrante..e, enquanto outros o ouviam distraidamente, usando-se de mil imagens, falava um na sua altivez..
não me recordo já por quem ou quê aguardava..sentia o frio inscrever-se nos ossos, pressentia o desabar de águas que por aí viria..
sorri, e o dia tornou-se um pouco especial..

Sonhei-te..e nesse sonho sonhei que eras água límpida..em meandros de azul perdida, gotejando um belo ser que não mostras..sacudindo o vento, pequenas partículas reluzentes num fundo de transparência..

nesse sonho estavas bela, rodeada de encantos ainda por desencantar..sorrias..fazendo-me sorrir..

e num outro sonho vi..

Leitos de leite deitado..um leitoso corpo que se arrasta no fundo de um nada que já não se abarca..mentes sacudidas pelo relevo da saudade do que nunca foi ou será..procurando num meio de nada alheio a estranhos..três, um, dois..saltos de marta e veludo..fogo azul, muito velho, carcomido..verdes entranhas dum sítio onde nunca se esteve..ligações incertas e singelas vias cirandantes..

e sonhos não são mais que tudo..um tudo ou nada que seja, circunscrito ou não, interdito ou não..sonhos são desejos, arrepios, medos, loucuras..

e o meu sonho de momento és tu..