15 agosto 2004

mais para além do sol apagado podem ver-se dois índios.. bailam, entreolhando-se numa vontade de ter.. as chamas crepitam entre eles.. e o desejo vai atiçando o fogo.. no céu vê-se o Caminho de Santiago e alguém ficou abandonado na berma.. está só.. dali não quer sair por um desejo imponente de nada mais ser.. acabar errante num caminho sem pressas, sem destino.. num campo de futebol faz-se um jogo sem bola.. num desatino translúcido de notas, tocam duas bandas à desgarrada.. para quê? porquê? será a última vez? uma miúda janota espera pelo fim da noite.. queixa-se de uma vida um pouco fútil e viciada.. tem um brilho de tristeza que trespassa pelo tempo.. e há quem tenha perdido uma vida que nunca o foi.. assim é aniquilado um casal, fortalecendo a união.. só não se sabe de quê.. e uma ligação é tentada.. um pouco como um calcanhar de Aquiles.. agora estou indecisa e cansada.. farta de não perceber.. mas também.. nunca tem que se perceber tudo.

10 agosto 2004

olho para o mapa mundo. fico a pensar quem seria se nascesse num outro canto do mundo. talvez até fosse um animal. gostaria de ser um dromedário perdido no deserto.

09 agosto 2004

entre cerveja..

“Tininha...
...não te prendas a nada nem a ninguém!”

porque tinhas que o dizer?
vivo entre três antagonismos.. o do tempo, dos silêncios, dos momentos.. o das palavras, da solidão, das memórias.. o da mentira, do não-amor, do perdão.. quando uma jarra de barro se quebra no chão, os cacos não cortam.. devia ser assim com a maioria das coisas.. mas quase sempre se quebra algo..

05 agosto 2004

(ada)

desassossegada. desesperançada. frustrada. cansada. intrigada. desconfiada. desacreditada. angustiada. e tantas outras palavras acabadas em -ada que poderiam servir para descrever este estado de alma em que não tenho calma. em que me sinto inútil e insignificante. em que sinto que poderia desaparecer já amanhã que nada seria diferente. em que sinto que pra eles nada valho. em que me sinto carcomida pela sensação de que estou a querer demais e estou a invadir demais. se não querem isto, porra, digam logo. não me façam querer desejar mais. não me alimentem vãs esperanças nem me iludam com o passar do tempo. se acham que exijo demais digam-me, reclamem. se eu não estiver a perceber berrem, dêem-me bofetadas que me façam acordar e tocar no chão. abanem-me até, juntos, ficarmos sem forças e cairmos num lamúrio triste de quem já vem tarde. não atirem para o ar palavras que eu não posso atingir. mostrem-me coisas, realidades, fantasias até. e não me deixem neste estado. confusa, perdida, entorpecida...